Oi amigos, estamos lendo os textos “ Os problemas cognitivos envolvidos na construção da representação escrita da linguagem” de Emilia Ferreiro e "A construção do conhecimento sobre a escrita" de Ana Teberosky e Teresa Colomer. Os textos abordam a organização, as hipóteses de escrita das crianças na alfabetização.
As formas tradicionais de tratar a educação vêem a criança como um receptor passivo de informações, transforma a alfabetização em um ato de codificar e decodificar a fala e a escrita de sílabas, palavras descontextualizadas, retirando o prazer de ler e escrever e sua função social. Atualmente essas práticas estão sendo questionadas pelas idéias de Emilia Ferreiro em uma abordagem construtivista-interacionista da aprendizagem sem dá receitas prontas. Sabemos que cada criança tem um nível cognitivo e um raciocínio lógico próprio para organizar o processo de construção do conhecimento. A criança percebe que além do desenho existe outro modo de representar e começa a fazer uso de letras, números, figuras, pauzinhos e bolinhas. Ela não compreende que a escrita representa o som das palavras e não o objeto a que o nome se refere. Essa etapa é a pré-silábica. Nesse nível a criança começa a perceber as características formais da escrita e constrói hipóteses sobre o que é necessário para escrever e que estes possam se lidos. Ela acredita que é preciso uma “quantidade mínima” de letras, ou seja, o texto que "serve para ler" deve ter no mínimo três ou quatro letras e que a palavra precisa ter várias letras diferentes com alternância- princípios de quantidade mínima e de variação interna. Na hipótese da quantidade mínima a criança conta quantos objetos aparece e representa cada letra para cada elemento.
Ex: Uma criança diz que a palavra Arara não serve para ler porque tem muito A;
Pé não dá porque falta letra;
L5OT não serve porque tem número.
OIA (gatinho)
OAI OAI OAI (gatinhos =3)
Aqui a criança escreveu três vezes a palavra gatinho porque ela contou quantos gatos tinha no desenho.
É necessário destacar que as crianças desenvolvem as hipóteses a partir de seu contato com materiais do seu entorno ou com leitores e escritores, por isso o desenvolvimento das hipóteses se dão pelos conhecimentos anteriores que as crianças possuem e que a partir disso evoluem para novas construções de conhecimento. É a tematização, onde a criança amplia seu conhecimento passando para um nível maior do que já sabe, é a transição do “saber como” para o “saber sobre”. Ela percebe que também o texto tem uma função, uma finalidade- intencionalidade comunicativa, que a escrita é um sistema simbólico e representa os nomes dos objetos e das pessoas ( hipótese do nome). O que está escrito é o que ela acredita que se pode representar por escrito, no caso os nomes, e o que se pode ler é uma interpretação que ela faz do que está escrito, ou seja, ela tem uma dimensão do todo. Quando uma criança faz uso da segmentação silábica ( ela repete várias vezes o nome que irá escrever e descobre as sílabas) já está saindo da hipótese pré-silábica para a silábica.
Na hipótese silábica, a criança através do seu contato com o cotidiano já começa mudar seus critérios, a escrita não representa o objeto a que se refere. Ela percebe que a escrita representa os sons da fala, cada letra uma sílaba oral (hipótese conceitual). Essa fase é conflituosa para criança, pois ela ainda tem o conceito de quantidade mínima e o avanço conceitual. O procedimento operatório é de correspondência um a um, ou seja, a criança faz uma correspondência quantitativa da escrita, ela conta as sílabas da palavra para saber quantas letras são necessárias para escrever. Podemos dizer que nessa fase a criança omite letra, repete sílabas, repete mais de uma sílaba para chegar ao final desejado. Depois o princípio de “quantidade mínina” anda paralelamente ao princípio de “variação interna”, na qual a criança já sabe que com uma letra não dá pra escrever e uma palavra não pode ser lida se for composta de uma mesma letra repetidas vezes. Juntamente a isso tem o valor posicional, uma mesma letra pode funcionar como a primeira letra do nome, como a última e assim por diante. É a relação entre as partes e o todo. As informações que a criança vai recebendo do exterior ocasiona perturbação que segundo Ferreiro (2007) podem ter três reações: a criança pode deixá-la de lado, pode compensá-la ou assimilá-la chegando a equilibração.
O período silábico-alfabético é a transição dos conhecimentos prévios para os que estão sendo construídos, quando a criança começa a reconstruir o sistema de escrita, mas tentando conservar os esquemas que construiu anteriormente, dizemos que ela está emergindo para o nível alfabético.
Nessa fase, procura assegurar em sua escrita a representação de cada fonema pelo grafema. Isso não implica o domínio das normas, mas no início a representação escrita tenta se aproximar da transcrição fonética. A ortografia, os espaços em branco e etc vão sendo assimilados ao longo do processo. A criança descobre novos problemas quantitativo ( não basta uma letra por sílaba e nem duplicando a quantidade de letras pois as letras são escritas com uma, duas ou mais letras) e qualitativo ( o som não garante a identidade da letra e nem o contrário).
Durante anos observamos qual a melhor maneira de ensinar a ler e escrever ou qual é o melhor método, o tradicional, analítico, sintético, global, etc., como se fossem receitas já prontas que é só aplicar. No entanto, temos que mudar nossa visão sobre o processo de leitura e escrita. As crianças não são sujeitos passivos, temos que perceber que a leitura e a escrita já existem fora da sala de aula, no cotidiano dessas crianças e que quanto mais materiais há nos ambientes que se encontram as crianças mais elas ampliarão seus conhecimentos. A criança das camadas médias quando chegam à escola está em um nível mais avançado do processo de leitura e escrita, enquanto a da camada menos favorecida apresenta hipóteses primitivas sobre escrita, não porque seja menos capaz, e sim porque não teve oportunidade de participar de atividades de leitura e escrita. Por isso a instituição de ensino e o professor devem estar atentos aos materiais que trabalham com as crianças, não trabalhando de forma descontextualizada do cotidiano delas, transformando a sala de aula em um ambiente que estimule as várias formas de escrita ( em grupo, duplas ou a classe toda), o acesso aos diversos tipos de textos é fundamental para que ela possa perceber as diferentes linguagens. O processo de letramento depende da maior familiaridade da criança com práticas de leitura e escrita. Muitas vezes as crianças não vêem sentido nas cópias e outros exercícios de grafia. Devemos também levar em consideração as formas de primitivas de escrita e fala, desde do início a criança tem uma intencionalidade de se comunicar e sendo assim ela obtém a aprendizagem gradualmene a partir do que ela constrói e não pela forma de uma simples transmissão do professor.
As crianças precisam entender porque precisam aprender a ler e escrever, qual a finalidade disso, como funciona esse sistema tão complicado para elas, onde são taxadas muitas vezes pelos professores de possuirem dificulade de aprendizagem, preguiçosas, desinteressadas, etc.
E para que isso não continue ocorrendo, o docente precisa conhecer seus alunos, sua realidade, as teorias que embasaram sua prática, ser um professor-pesquisador para assim poder compreender e ajudar no processo mais importante para esses futuros cidadãos: a alfabetização.
Referências Bibliográfica: FERREIO, Emilia. Alfabetização em processo. 18 ed., São Paulo, Cortez, 2007. (p.09-20)
TEBEROSKY, Ana. COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.